22 de janeiro de 2010

AVES LIVRES PERTO DE NÓS




Por Darci Bergmann



Nas palestras do Projeto SEMEAR sempre recolho sugestões. Uma delas se refere à divulgação de práticas que permitam atrair aves para o perímetro urbano. É evidente que a primeira prática importante seria a ampliação das áreas verdes, medida essa que faz parte das políticas públicas. Mas essas nem sempre se voltam à questão ambiental como prioridade. Mais dia as pessoas e os administradores vão entender que os espaços verdes são imprescindíveis à qualidade de vida. A impermeabilização excessiva das cidades está se tornando um fardo pesado ao erário público e alguns planos diretores contemplam o aumento das áreas verdes. Na esteira das conseqüências benéficas das áreas verdes está o aumento da biodiversidade. Exagero? Creio que não. É só observar a quantidade de espécies de aves que aparecem em qualquer pátio bem arborizado. Quanto mais espécies de árvores e arbustos, mais bichinhos aparecem. Não só aves, mas borboletas, sapos, lagartixas e por aí vai. E essa bicharada toda pode viver em harmonia com o bicho homem. 
   Claro que às vezes ocorrem conflitos, porque algumas espécies se tornam pragas e também porque há pessoas que tem fobia de animais silvestres. Na maioria das vezes a convivência é possível e o condomínio urbano pode atrair muitas espécies.
   Aqui um alerta. Nada de enjaular bicho. Sei de pessoas que criam aves em cativeiro. Quase sempre aquelas espécies exóticas, que não sobrevivem no meio natural porque a vida em cativeiro lhes tirou o aprendizado instintivo. Melhor seria se criássemos ambientes propícios e nenhuma ave precisasse ficar trancafiada. Nada se iguala ao convívio das aves livres perto de nós. 
   Outra face da questão é que o tráfico absurdo de animais aumenta o perigo de extinção de algumas espécies. Esse tráfico aqui no Brasil é muito maior do que se imagina. Não há nenhuma justificativa para essa prática nojenta. 
   Uma vez flagrei um sujeito pegando cardeais. Alegou que as aves eram apanhadas e vendidas porque não conseguia emprego. O sujeito era um corpulento, jovem ainda e se realmente quisesse trabalhar de forma decente teria outras formas de sobreviver. Numa atitude arriscada de minha parte, fiz a soltura dos cardeais já aprisionados e recolhi os alçapões e gaiolas, que depois foram destruídos. O correto seria denunciar o sujeito à autoridade policial, mas naquelas alturas achei a medida adequada. Ressalto que esse tipo de abordagem é arriscado.
   Nas cidades, podem ser plantadas muitas espécies de árvores e arbustos que fornecem alimento para a fauna alada. Basta ter um olhar atento. E também a nidificação de algumas espécies pode ser estimulada com dispositivos simples, como os ninhos ou casinhas com vários materiais. As garrafas de PET são um dispositivo barato e eficiente. Os canarinhos especialmente, são atraídos para esses ninhos. A prática tem mostrado que canários e outras aves gostam da privacidade. Por isso as garrafas translúcidas devem ser pintadas com cores neutras. Usar de preferência tinta com base água. A porta de acesso é feita com um cano metálico aquecido, com 2,50 cm ou pouco mais de diâmetro. A porta ou furo deve ficar a uns 10 cm acima do fundo da garrafa. Também a tampa superior é retirada para facilitar a ventilação. No fundo da garrafa são feitos 4 ou 5 pequenos furos com no máximo 0,5 cm de diâmetro. Isto previne algum acúmulo de água. Também é recomendável que os ninhos sejam pendurados em áreas sombreadas. 
   Outras dicas: o ninho deve ser pendurado com fio a mais de 20 cm dos galhos para evitar o acesso dos roedores. Nos locais onde há movimentação de pessoas, o ninho deve ficar pelo menos 3,50 metros acima do solo. Não é necessário colocar o poleiro ao lado da porta de acesso do ninho de pet. Faço a limpeza a cada dois anos no máximo, retirando a forração velha antes da chegada da primavera. Quando ela chega, os canários e outras espécies de aves fazem o acasalamento e avidamente procuram moradia. 
  Com quase setenta ninhos espalhados no terreno onde moro, é um festival de canários na maior parte do ano. Curiosamente os pardais não incomodam os canários. Talvez um dos motivos seja a presença constante dos bem-te-vis (Pitangus sulphuratus). Eles afugentam os pardais. Existem outras opções de ninhos até bem mais sofisticadas. O importante também é reutilizar os materiais que já circulam no ambiente.




Na foto ao lado exemplar macho de canário-da-terra Sicalis flaveola. O poleiro de plástico que aparece na direita do ninho de pet é opcional.

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