15 de novembro de 2010

Nuvem assassina

Por Darci Bergmann

O sol já despontava no horizonte
Naquela manhã primaveril
Centenas de aves, talvez mil
Nas cercanias do arrozal
Escurraçadas pelo ronco infernal
 De algo espargindo gotículas
Densa nuvem de partículas
Sob as asas da nave cabal.

Decorria o tempo, o sol já abrasava
E o vento mais forte anunciava
Que a nuvem artificial espraiava
Gotinhas ao longe, lá na planura.
Arbustos, árvores e o abrigo da saracura,
Tudo envolto pela névoa fumacenta
Da ave impiedosa e agourenta
Insanidade beirando à  loucura.

Passados os dias, o arrozal mostrava
Plantas mortas em meio à cultura
Nas copadas, em volta, folhas com brancura
Até nos cinamomos e na cina-cina
No rincão ermo a ganância vira sina
De alguns que pilotam sem escrúpulo
Os tempos mudam, este é o crepúsculo
Novo tempo virá, sem nuvem assassina.  (Darci Bergmann, 10/10/2008).

O poema acima refere-se à aplicação aérea de herbicidas. Nem todos os pilotos e empresas são conscientes.   As aplicações aéreas de herbicidas e agrotóxicos em geral causam derivas e parte do produto atinge o ambiente no entorno. Os aviões sobrevoam áreas fora da área-alvo e isso cria uma turbulência que aumenta as derivas. As condições meteorológicas mudam no decorrer das aplicações e isso é motivo para que o serviço seja suspenso. Na prática, na maioria das vezes, isso não ocorre. Muitas espécies nativas da nossa flora estão sendo dizimadas por herbicidas, à base de glifosato, clomazone e 2,4-D. As formulações comerciais de clomazone são extremamente voláteis. Este produto causa uma clorose esbranquiçada nas folhas. Algumas espécies são mais sensíveis ao produto, como é o caso da canafístula (Pelthophorum dubium), do cinamomo (Melia azedarach), entre outras. A biodiversidade do Bioma Pampa está sendo afetada por essas derivas aéreas. As empresas aero-agrícolas se defendem e propagam que são fiscalizadas. Na prática, lá no campo, não tem nenhuma fiscalização. 

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