4 de abril de 2012

Só um povo atrasado não compreende a importância das florestas

Florestas: A espécie humana e milhões de outras delas precisam.
Foto: Darci Bergmann - Bugios

   Por Darci Bergmann


   Impossível ficar indiferente quando o assunto é a degradação das florestas brasileiras, ou como, queiram alguns, dos biomas brasileiros. Aqui as florestas representam o conjunto dos ecossistemas. Geralmente, os ecossistemas estão interligados a algum tipo de vegetação arbórea ou mesmo arbustiva. E muitos campos no Bioma Pampa tendem à arborização natural, inicialmente com espécies precursoras tal como a vassoura-branca,  o espinilho, o curupi, a aroeira-vermelha, o coentrilho, entre outras.
   O termo mato, sinônimo de floresta, tem sido deturpado ao longo dos anos. Talvez os colonizadores chamassem de 'mato' as ervas competidoras com os seus cultivos. A tal ponto que matagal pode se referir a uma área abandonada, sem intervenção humana. Outros termos também usados com o mesmo sentido são chircal, bamburral, capoeira, entre outros mais. Na maioria das vezes, os terrenos baldios urbanos, áreas abandonadas ou em pousio e até em recuperação espontânea na zona rural  não tem o reconhecimento da sua importância ecológica. O mato nessas áreas está absorvendo gás carbônico, protegendo o solo contra as enxurradas, repondo matéria orgânica e ainda permitindo a infiltração das águas pluviais para recarga dos aquíferos. Além disso, permite a existência de várias espécies animais. 
   Aqui um ponto lamentável da incompreensão humana sobre esses ambientes. Animais aparecem. Gambás, roedores e serpentes podem ali encontrar refúgio. Aí as reclamações aumentam. Pessoas aparentemente preocupadas com a segurança pública se manifestam e até exigem a roçada ou limpeza desses locais. Talvez as mesmas pessoas que ali jogaram entulhos, plásticos e tantos outros resíduos retirados dos seus pátios e de suas casas. Também referem que um mato desses pode servir de esconderijo para delinquentes. Assim o lado bom dos nossos matos é esquecido. No fundo quem deturpa o ambiente é a pessoa humana, com os seus comportamentos impróprios, desequilibrados e hostis à Natureza. Basta ver a caótica situação do trânsito.Da violência. Da barulheira urbana, das ruas calorentas e costuradas por fios sobre as nossas cabeças. Diante desse caos que a espécie humana acredita ser  progresso, prefiro viver no meio do 'mato'.
   Com o aumento da população, os cinturões verdes vão minguando e em muitas regiões já desapareceram -as cidades cresceram e se ligaram umas às outras. Não há lugar para o mato, mas também não há lugar para a qualidade de vida. É um amontoado gigantesco de pessoas e algumas poucas espécies de bichos. 
Precisamos impor limites a essa expansão desenfreada e caótica da espécie humana. Não é só por questão de comida. Uma sociedade que já perdeu a noção da importância de um ambiente natural - como é o caso das suas florestas - já está debilitada e a caminho da infelicidade. 
   Alguns países trilharam pelos caminhos da industrialização, da urbanização e estabilização das suas populações,  reservando extensas áreas para as suas florestas. Muitas foram replantadas não para fins comerciais e sim para a preservação, pela importância dos seus serviços ambientais. A esses somam-se os benefícios sobre a saúde mental. 
   O Brasil é detentor de uma biodiversidade invejável. Uma floresta é muito mais do que árvores, é um conjunto de espécies, uma sinfonia de seres que só por isso já deveria merecer o nosso respeito. Ser culto é reverenciar essa imensa obra da criação. Só um povo atrasado não compreende a importância das florestas. 
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Mais sobre o tema:

  A importância da floresta
Eng. ° Agr.° Paulo Annes Gonçalves

            A floresta cresce de importância. Pelo menos no estrangeiro, já que no Brasil, ao que parece, continuamos na fase colonizadora de um século atrás quando a norma em produção agrícola era plantar na mata recém derrubada.
            Floresta era sinônimo ou indicio de terra boa para plantar. O Rio Grande do Sul já teve 38% de seus 282 mil quilômetros quadrados cobertos de mata. Hoje, ninguém sabe o pouco que temos. Fala-se em 2% e também em 8%.
            O fato de saber-se que nos Estados Unidos um terço da área geográfica é coberta de matas, e mais ainda, que um terço desse terço é de matas que pertencem ao governo, não impressionou o Rio Grande. A derrubada continua.
            A velha Europa dá valor à floresta. Veja-se o percentual de terra sob florestas em alguns dos países europeus que têm servido de exemplo para a agricultura brasileira, especial à sul-rio-grandense.

 

ÁREAS COM MATAS

França___________26%
Alemanha________29%
Itália____________20%
           
            Se olharmos para um país asiático, outro exemplo encontraremos. O Japão de área 30% maior que a rio-grandense, figura com 23% de seu território coberto de matas*(matas plantadas pelo homem).
            Vemos assim que o Japão muito embora com 115 milhões de habitantes (quase a do Brasil) apertados em 372 mil quilômetros (igual ao Rio Grande do Sul e Santa Catarina somados) nos oferece bom modelo.Segundo a FAO a floresta Nipônica ocupa 250.000 quilômetros. Ou 67% de todo o território formado por suas ilhas.
            E desse total um terço ou 90.000 km2 é de matas plantadas pela mão do homem. O restante são matas nativas. E lá a árvore mais plantada é a “Cryptoméria” conhecida como ornamental em jardins nesse estado.
            Apesar de estarem assim mais ricos em matas que o Rio Grande do Sul, o serviço florestal japonês, anos passados estabeleceu a meta de elevar os 90.000 para 130.000 quilômetros de matas plantadas pelo homem. (FAO, Unasylva, 128/1980).
            Estes 130.000 são praticamente a metade da área só em terras no Rio Grande do Sul, uma vez descontadas as lagoas.
O Rio Grande, como o Brasil, ainda vive a fase do arado. A de abrir novas fronteiras, fazendo lavouras anuais. Nem se dá conta de que em outros países a área com matas é cada vez maior. Cerca de metade da área ocupada com lavouras, anuais ou perenes é a extensão com matas em vários países.
Este, o exemplo da Europa Continental. Não obstante ser, em relação a nosso estado, um conjunto de superpovoadas nações. Mais bem alimentado que o nosso país, o continente europeu apresenta maior área com matas que com lavouras.





É o que mostram os números do anuário 1979 da FAO, indicando em quilômetros quadrados:
Área com lavouras anuais e permanentes_____ 1.420.000 Km2
Área com florestas_______________________ 1.546.000 Km2

            Pode-se pensar que exemplos acima são de países com povoamento secular, mais velhos que os dois séculos que tem nosso estado. Tomemos, pois um país novo. Nova Zelândia, onde o primeiro núcleo desembarcou em 1792, meio século após o povoamento inicial do Rio Grande.
            Além de bem alimentada e com alto padrão de vida, a Nova Zelândia é um dos fortes exportadores mundiais de alimentos. Lá a floresta nativa, segundo o “Pocket Digest of Statistics 1980” ocupa 62.460 quilômetros quadrados. Ou 23% dos 269.000 quilômetros da área do país. Vivem bem e exportam sem arrasar a floresta.

FONTE: Correio do povo – Pág 4 - Suplemento Rural – 25 de setembro de 1981

*OBS do blog: os dados de 23% referem-se a florestas implantadas pelo homem
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Desmate na Amazônia quase triplica de janeiro a março de 2012, diz Inpe

Fonte: G1 (acesso em 05/04/2012)

Menor quantidade de nuvens no bioma revelou mais áreas degradadas.
Governo diz que houve aumento da detecção, mas não do desmatamento.




Entre janeiro e março de 2012, o desmatamento na Amazônia Legal quase que triplicou, se comparado com o mesmo período do ano passado.
O volume de nuvens foi menor no primeiro trimestre deste ano, o que elevou a qualidade de visualização dos chamados "polígonos de desmatamento".
Os dados foram divulgados pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, nesta quinta-feira (5), em coletiva realizada em Brasília.
Segundo o sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no primeiro trimestre os satélites detectaram a perda de 389 km² da cobertura florestal, número que é 188% maior se comparado ao mesmo período de 2011 (135 km²).
A ministra não considera que os dados não representam um crescimento no desmate, já que, para ela, a redução da quantidade de nuvens sobre o bioma facilitou a fiscalização feita por sensoriamento remoto. "Não temos crise de desmatamento, como foi ano passado, não tem aumento de desmatamento", disse.
Estado do Amapá tem 76,6% de seu território coberto pela floresta amazônica. Na imagem, o Parque Nacional Montanhas de Tumucumaque. (Foto: Divulgação/Grayton Toledo/Governo do Amapá)Redução do volume de nuvens sobre a Amazônia melhorou a visualização por satélite.Desmate triplicou no primeiro trimestre de 2012, se comparado ao mesmo período do ano passado. (Foto: Divulgação/Grayton Toledo/Governo do Amapá)
Em fevereiro de 2011, apenas de 1 km² de vegetação derrubada foi detectado, já que a cobertura de nuvens era de 93%. Neste ano, o mês registrou desmate de 307 km², a maior parte no Mato Grosso (285 km²). "Ano passado não havia desmatamento detectado porque nós não víamos nada", disse Gilberto Câmara, diretor do Inpe.
Para Câmara, a pesquisa em campo feita pelos órgãos de fiscalização verificou que 68% das áreas encontradas devastadas (por desmate e queimadas) resultam de atividades ilegais ocorridas em 2011.
Estabilidade
A ministra também ressaltou que não houve aumento absoluto no desmate ao comparar o período de agosto de 2011 a março de 2012 com os mesmo meses entre 2010 e 2011.
Entretanto, chamou a atenção para a elevação de atividades ilegais (no período, desmate subiu de 12 km² para 56 km²). O aumento pode estar associado a uma migração de desmatadores do Pará para o estado. Segundo Izabella, órgãos ambientais vão melhorar a fiscalização na região.
Código florestal
Sobre as mudanças na legislação ambiental, que tramita na Câmara dos Deputados, pode também influenciar o desmatamento, de acordo com o governo. "Ainda tem gente em campo dizendo, segundo os relatos da inteligência, que você pode desmatar que vai ser anistiado". 
"As equipes têm se deparado com colocações de que o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais] não teria competência mais de fiscalizar. Não é verdade", disse ela. Só este ano, o Ibama aplicou quase R$ 50 milhões em multas por desmatamento na Amazônia e embargou áreas, principalmente no Mato Grosso e Pará.
Desmatamento Amazônia (Foto: G1)


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