7 de setembro de 2012

A natureza sabe o que faz (2)


Por Darci Bergmann

Áreas em regeneração espontânea: do simples ao complexo

   As plantas pioneiras proporcionam resultados positivos, nem sempre compreendidos pela maioria das pessoas. Elas foram projetadas geneticamente para uma série de funções e abrem caminho para o estabelecimento de sistemas ecológicos mais complexos. Esses sistemas ecológicos propiciados pelas plantas pioneiras, ou precursoras, permitem a produção de alimentos e fontes de matéria-prima vegetal de forma sustentável. Formam um leque de possibilidades de produção sem o uso de agrotóxicos, sem revolvimento do solo e sem a exposição deste à radiação solar, entre outras vantagens. Num sistema assim, cada ser tem a sua função reconhecida. A competição cede lugar à integração. 
   Esse tipo de agricultura tem denominações diferentes, conforme as variações de manejo.  Permacultura, Agrossillvicultura, Agricultura Natural, Agroecologia, Agricultura Biodinâmica e Agricultura Regenerativa são algumas dessas conceituações. Tenho realizado algumas experiências ao longo de quase 30 anos, em pequena área, aplicando um pouco de cada uma dessas correntes. E os resultados começaram a aparecer e já permitem concluir que  a recuperação de áreas degradadas é viável economicamente. 
   O importante é não ter pressa e sim manter o foco do que se pretende fazer. 

Citrus deliciosa, bergamoteira ou mexerica
Dentro de mata secundária, sem ataque de pragas.


Poderíamos ter evitado a degradação de grandes áreas em todos os biomas brasileiros
Citrus limonia, limão-cravo.
planta sã dentro de vegetação secundária


A foto acima mostra uma cooperação entre  plantas pioneiras
  e árvores  nativas de grande porte. O ipê-roxo se desenvolve
bem com a proteção das pioneiras.


 Se esses conceitos tivessem sido aplicados em vários programas de colonização e reforma agrária, a degradação teria menores proporções. Por ora os custos e a demora em recuperar certas áreas não atraem a maioria dos candidatos a um pedaço de terra. A maioria quer o filão mais fértil, que traga retorno financeiro imediato. Esse tipo de comportamento se refletiu na ocupação das áreas com remanescentes florestais. O certo seria viver com aquilo que a floresta intacta pode nos proporcionar, com o mínimo de interferência humana. Quase sempre a floresta foi arrasada. A madeira fornecia o 'lucro imediato' e o restante era queimado para então estabelecer lavoura ou pecuária
    Uma das alternativas para a recuperação do que já foi degradado – são dezenas de milhões de hectares – seria a ocupação dessas áreas por pessoas capacitadas e com incentivos públicos. Profissionais das áreas agronômicas e florestais, além de técnicos agrícolas de nível médio e agricultores com experiência, teriam prioridade na ‘aquisição’ dessas terras, sempre com o foco de recuperação e produção sustentável. Assentar pessoas  despreparadas em terras férteis, sem recuperar o passivo ambiental, é um desperdício de tempo e de recursos.
   Os tempos são outros e urge uma nova postura diante da calamidade ambiental que nos assola.  
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Fotos: Darci Bergmann
     

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