30 de outubro de 2012

João-de-barro, trabalho solidário

Um exemplar macho de canário-da-terra (Sicalis flaveola),
em  ninho de joão-de-barro (Furnarius rufus)

Foto acima: um casal de joão-de-barro (Furnarius rufus), constrói
ninho em travessão de poste condutor de rede elétrica



Por Darci Bergmann


   Nas minhas andanças por alguns dos nossos biomas brasileiros já vi de tudo um pouco. Na minha mente, coleciono cenas de paisagens que foram sendo alteradas ao longo do tempo. Para pior, quase sempre, devido aos grandes impactos que a natureza sofre quando chega a civilização. Em meio a tudo isso, também recolho imagens que fazem um bem ao meu ego. Coisas simples, banais talvez e despercebidas quase sempre. Nestes tempos em que as bugigangas do consumismo viram montanhas de lixo, ainda me comovem algumas cenas protagonizadas pelos animais.
   Aqui me refiro a uma delas. Trata-se de um ninho de joão-de-barro, cedido a um casal de canarinho-da-terra.  O fato revela a solidariedade dentro do mundo animal. A construção de um ninho de barro já é uma tarefa árdua para um casal de joão-de-barro. Macho e fêmea o fazem com uma disposição inusitada e com  muita cantoria. Forram a casa com raízes e fibras para acomodar os ovos e os filhotes que virão a seguir. Depois de crescidos, os filhos saem mundo afora. O casal construtor pode reaproveitar o ninho e o faz, muitas vezes, tudo isso para economizar tempo e trabalho, muito trabalho. Mas cede a moradia a outras espécies de aves. Sempre tem aquelas espécies que precisam locais mais protegidos para nidificar. Caso dos canários, das corruíras, e outras mais. Um oco num tronco já pode ser abrigo para um ninho desses. Não é fácil encontrar um local assim, principalmente onde ocorrem queimadas.     Registrei a cena em que o canário-da-terra adotou a moradia construída pelo joão-de-barro. 
   Trabalho e solidariedade. Lições que eu recolho de um casal de joão-de-barro, também conhecido por Furnarius rufus*

*Nota do blog: A espécie joão-de-barro, nome científico Furnarius rufus, foi escolhida como ave-símbolo de São Borja/RS, pela lei 1.568, de 1988, autoria do então vereador Darci Bergmann

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